Bolsas repercutem aperto de cinto no Brasil com alta surpreendente da Selic e cinto frouxo nos EUA

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Dois recados muito diferentes vieram dos bancos centrais ontem. Enquanto os Estados Unidos sinalizaram uma preocupação menor com a inflação no maior estilo “sabemos que vai subir um pouco, mas tudo bem”, por aqui o Copom (Comitê de Política Monetária) surpreendeu ao apertar mais o cinto do que o mercado esperava.

A meta para a taxa básica de juros básicos, a Selic, foi elevada em 0,75 ponto percentual, para 2,75% ao ano, quando a esmagadora maioria do mercado esperava por um ajuste de 0,50 ponto percentual.

“Foi uma decisão que surpreendeu, mas uma decisão acertada e pelo comunicado já fica dado uma alta do mesmo nível para a próxima reunião, mas ele também indica que não deve chegar rapidamente a uma taxa neutra, que seria próximo de 5%”, afirma Victor Hasegawa, gestor de ações da Infinity Asset.

No comunicado da decisão, o Banco Central avisou que, exceto por “uma mudança significativa nas projeções de inflação ou no balanço de riscos, o Comitê antevê a continuação do processo de normalização parcial do estímulo monetário com outro ajuste da mesma magnitude”.

Para Bráulio Borges, pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), a decisão do Banco Central é uma reação muito mais ao câmbio do que à inflação, numa avaliação que leva em conta a decisão “deliberada” de surpreender o mercado e o fato de a autoridade monetária ter vendido cerca de US$ 10 bilhões das reservas no mercado à vista, além de ter ofertado um bom volume de swaps cambiais.

“A alta dos juros vai ajudar a tirar pressão sobre o real. A desvalorização do real acabou ajudando a pressionar a inflação”, diz Hasegawa. O dólar já acumula alta de 7,67% neste ano sobre o real.

A repercussão da decisão nos mercados da decisão sobre a Selic será também uma questão de fé, de os investidores acreditarem que a sinalização do Banco Central servirá de âncora eficiente para as expectativas de inflação daqui em diante.

A decisão do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) teve reação imediata na tarde de ontem de alívio nas bolsas ao retirar, em partes, a pressão sobre os juros futuros dos Estados Unidos. Tanto que o juro do título do Tesouro com vencimento em 10 anos, um dos mais acompanhados pelo mercado, chegou a cair.

Contudo, hoje essa taxa já volta a subir e rompeu nesta manhã, pela primeira vez desde o início de 2020, o patamar de 1,70% e chegava a 1,739%, o que coloca pressão nas bolsas americanas, especialmente a Nasdaq, com empresas de tecnologia que são as mais penalizadas com a elevação dos juros futuros, explica Hasegawa.

Por lá, a discussão que essa é se a inflação, que o Fed já reconhece, é transitória ou será mais duradoura.

Agenda

Um dia depois de os comitês dos banco centrais do Brasil (Copom) e dos Estados Unidos (Fomc) anunciarem suas decisões de política monetária, hoje é a vez dos BCs inglês (BoE), logo cedo, e japonês (BoJ), no fim do dia. Em ambos os casos, a expectativa é de manutenção das taxas de juros.

Entre os indicadores econômicos, o calendário doméstico está sem destaques, enquanto lá fora saem os pedidos semanais de auxílio-desemprego nos EUA, às 9h30. Na semana anterior, houve 712 mil pedidos iniciais e agora são estimados 700 mil novos pedidos.

Bolsas internacionais

As bolsas asiáticas fecharam em alta nesta quinta-feira no embalo da promessa do Federal Reserve (Fed) de continuar mantendo a política monetária ultra-frouxa até 2023, pelo menos.

O Nikkei, índice de referência da Bolsa de Tóquio, terminou o dia em alta de 1,01%, e o Kospi, da Bolsa de Seul, subiu 0,61%. Na Bolsa de Hong Kong, o Hang Seng avançou 1,28%. Na China, o Xangai Composto subiu 0,51%, e o Shenzen Composto teve ganhos de 0,87%.

Depois do Fed, na noite desta quinta-feira, será a vez do Banco do Japão (BoJ) anunciar sua decisão de política monetária e ser observado pelos investidores.

Empresas

  • Quase dois anos após adquirir Netshoes e Zattini, o Magazine Luiza compra o Steal the Look, um site de recomendações de compras de roupas e itens de beleza.
  • A Fundação Procon-SP multou a Cia Brasileira de Distribuição, que detém empresas como Pão de Açúcar, Extra e Compre Bem, em R$ 10.546.442,48 por infringir quatro artigos do Código de Defesa do Consumidor.
  • A Sequoia Logística e Transportes celebrou contrato para aquisição de 100% das quotas do capital social da Lithium Software (Frenet), plataforma de soluções digitais de transporte para o mercado B2C (comércio digital entre empresas e consumidores).
  • A Anima Holding registrou prejuízo líquido de R$ 33,1 milhões no quarto trimestre do ano passado, o que representa alta de 16,9% ante o mesmo período de 2019. Entre janeiro e dezembro o prejuízo somou R$ 41,1 milhões, alta de 328,5% no comparativo anual.
  • A Yduqs reverteu o lucro líquido de R$ 58,1 milhões registrado no quarto trimestre de 2019 e teve prejuízo de R$ 102,6 milhões no mesmo período do ano passado. Entre janeiro e dezembro, o lucro líquido somou R$ 98,2 milhões, queda de 84,8% no comparativo anual.
  • A Alliar registrou lucro líquido atribuível aos acionistas de R$ 12,7 milhões no quarto trimestre do ano passado, o que representa alta de 71,2% em relação ao mesmo período de 2019. Entre janeiro e dezembro, a companhia registrou prejuízo de R$ 97,4 milhões, revertendo o lucro de R$ 41,3 milhões registrado em 2019.
  • A EZTec fechou 2020 com seu maior lucro líquido desde 2015. O ganho teve alta de 44%, para R$ 405,2 milhões, e a margem líquida passou de 34,9% para 43,3%. A elevação de 81% no resultado financeiro líquido, para R$ 168 milhões, foi a principal razão para o desempenho. A receita líquida aumentou 16%, para R$ 936,6 milhões.

(Com Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor)

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